Um ensino superior promotor de inovação?
A intensidade tecnológica e de conhecimento da economia portuguesa tem aumentado de forma gradual, mas sustentada, como parte de um processo de transformação estrutural que foi acelerado pelas crises financeira e pandémica. Essa maior intensidade de conhecimento resulta da desindustrialização em setores de baixa intensidade tecnológica e do peso crescente de serviços de mercado intensivos em conhecimento e serviços de alta tecnologia.
Verifica-se um aumento relevante da intensidade de tarefas abstratas e cognitivas no emprego nacional (mais cinco pontos percentuais em cinco anos) que acompanhou o forte aumento do nível de qualificação médio da população ativa portuguesa.
A terciarização do emprego em Portugal fez-se na última década também muito a partir do crescimento de serviços pouco intensivos em conhecimento (39% do emprego atual). Este padrão de alteração da procura de qualificações polariza o mercado de trabalho e diminuiu o conteúdo abstrato do emprego dos diplomados do ensino secundário, pós-secundário e dos cursos CTeSP.
Nos últimos 5 anos esta tendência foi alimentada exclusivamente pelo crescimento da despesa do setor empresarial, em linha com a intensificação tecnológica e de conhecimento da economia portuguesa. Foi também acompanhada por uma descida da despesa em I&D no ensino superior. Esta tendência é relevante dado o papel central que o ensino superior continua a desempenhar na estrutura nacional de investigação científica (30% vs. 21% na UE-27), empregando ainda aproximadamente metade dos investigadores nacionais e três quartos dos doutorados.
O número de investigadores tem vindo a aumentar de forma consistente, particularmente no setor empresarial (47,5% nos últimos cinco anos, duas vezes mais rápido do que o crescimento global). O número de doutorados diplomados em cada ano (aproximadamente 2.400) aumentou também significativamente nos últimos cinco anos (14%), embora o número de novos inscritos em doutoramento em cada ano tenha estabilizado (em torno dos 6.000).
Apesar deste aumento, não se verifica neste período um aumento evidente de incidência de desemprego entre doutorados. Ainda que o baixo número de doutorados no emprego diminua a fiabilidade destas estimativas, os últimos anos parecem caracterizados por uma diminuição de situações de desemprego entre doutorados. A empregabilidade dos doutorados continua, no entanto, fortemente ancorada no ensino superior. Apenas um em dez doutorado está no setor empresarial, e cerca de 14% no setor do Estado e em instituições privadas sem fins lucrativos.