A educação é suficientemente valorizada no emprego?

A associação entre qualificações e empregabilidade continua a ser muito evidente

A pandemia agravou o desemprego dos jovens, penalizando sobretudo os menos qualificados

Os ganhos salariais relativos estão cada vez mais concentrados nos mestres numa tendência que se tem vindo a reforçar rapidamente. Auferem atualmente, em média, cerca de 80% mais do que um diplomado do ensino secundário, enquanto os licenciados registam prémios de aproximadamente 45%. Esta tendência reflete uma recuperação de salários reais total face ao período do início da crise financeira e uma tendência de aumento muito (quase duas vezes) mais rápida no período pós-austeridade e pós-pandémico, sobretudo entre os homens.


A posição relativa dos diplomados do ensino secundário também se alterou durante os últimos anos mediante duas pressões contraditórias: um aumento da base mínima de referência salarial devido ao aumento real do salário mínimo e alterações na composição do emprego decorrentes de alterações na perceção relativa do valor do ensino secundário face a níveis de qualificações superiores.

O primeiro efeito contribuiu para aumento de salários reais, mas em proporção muito menor relativamente a trabalhadores menos qualificados. O segundo tende a promover uma recomposição na direção de empregos menos complexos. Esta tendência é visível numa descida significativa da intensidade tecnológica e de conhecimento do emprego que requer qualificações secundárias e um aumento ligeiro da sua probabilidade de automação. 


Os diplomados do ensino secundário estão sujeitos a maior compressão salarial

Os dados apontam para níveis de sobrequalificação elevados 

Dados recentes, autorreportados no âmbito do inquérito PIACC (OCDE, 2024) e que comparam as qualificações dos trabalhadores portugueses com os requisitos de qualificações nos empregos, parecem apontar para níveis de sobrequalificação aparente mais elevados, sobretudo entre mestres, mas também entre jovens licenciados e com o ensino secundário.

A incidência de subqualificação é mais evidente entre as gerações mais velhas de licenciados e diplomados do ensino secundário

Os trabalhadores que reportam qualificações acima do requerido no seu emprego e um nível auto-percecionado de competências superior ao necessário têm salários e rendimentos significativamente mais baixos. Os níveis de competências de literacia, numéricas e de resolução de problemas em ambiente digital não diferem significativamente entre licenciados e diplomados do ensino secundário vocacional, estejam ou não ajustados, e apesar das diferenças salariais.

Já no caso de mestres e diplomados do ensino secundário, as diferenças salariais parecem corresponder a diferenças no nível efetivo de competências. Esta dinâmica é compatível com a substituição de licenciados por mestres em empregos com perfis de competências menos exigentes e problemas de perceção do nível real de competências dos diplomados do ensino secundário vocacional.

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